sexta-feira, 18 de setembro de 2015

JOSEF MENGELE "O Anjo da Morte" Morte em BERTIOGA SP

JOSEF MENGELE O Anjo da Morte.

Mengele em Buenos Aires anos 50

Suas últimas horas.

Na pequena cidade de Bertioga, no litoral do estado brasileiro de São Paulo, um monstro nazista vivia seus últimos momentos há 35 anos. De forma bem diferente da que muitos imaginariam após a descoberta de suas atrocidades, ele morreu em um banho de mar, possivelmente devido a um ataque cardíaco. Talvez o nome Josef Mengele, ou mesmo o seu apelido, Anjo da Morte, possam soar desconhecidos para as novas gerações. Mas o seu trabalho como médico do regime de Adolf Hitler simbolizou como poucos os horrores dos campos de concentração.

Um homem em particular jamais esquecerá o dia 7 de fevereiro de 1979. O brasileiro Espedito Dias Romão, então com pouco mais de 30 anos, era cabo da Polícia Militar do Estado de São Paulo e chegou ao local da ocorrência na praia da Enseada, próxima ao centro comercial de Bertioga, logo depois. No fim de uma tarde de sol, ele diz ter recebido uma chamada informando sobre um corpo na praia. Ao chegar ao local em uma viatura, ele afirma ter visto uma pequena aglomeração em volta de um senhor na areia.

Tratava-se do austríaco Wolfgang Gerhard, segundo constava na modelo 19, um documento antigo de identificação de estrangeiros no Brasil. “Quando cheguei, o corpo estava estirado na faixa de areia. Tudo indicava que ele foi retirado do mar já sem vida. Era um senhor bem branco e de bigode, e que não apresentava sinais de afogamento comuns, como vômitos e água expelida pelas laterais e pela boca. Fui levado a pensar que se tratava de um caso de mal súbito”, conta.

No boletim de ocorrência lavrado logo após a morte, e que apontava como naturezas do óbito um mal súbito e afogamento, informava-se que Wolfgang tinha 54 anos, era viúvo, trabalhava como técnico mecânico e residia no bairro do Brooklin Novo, em São Paulo. “Segundo apurado entre as testemunhas, a vítima banhava-se no mar, sentiu-se mal, vindo a perecer afogada, embora socorrida por populares”, afirma uma cópia do documento mostrada por Dias ao EL PAÍS.

Wolfgang era, na verdade, Mengele, segundo revelaria um intenso trabalho de pesquisa científica anos depois, mas que, ainda hoje, levanta polêmicas e suscita teorias de que o médico nazista teria como destino outros países, inclusive os Estados Unidos. Aquele homem encontrado morto na pequena Bertioga era um dos criminosos mais procurados do mundo desde o fim da Segunda Guerra, e teria passado por outros países da América Latina, como a Argentina, antes de aportar no Brasil.

Como médico em Auschwitz, além de capitão da força nazista SS, Mengele foi um dos responsáveis pela seleção dos prisioneiros que seguiriam para o trabalho forçado e os que morreriam nas câmaras de gás. Suas experiências em seres humanos, sobretudo crianças gêmeas judias e ciganas, foram responsáveis por alguns dos capítulos mais desumanos do século XX.

A morte de Mengele não foi presenciada por muitas pessoas no Brasil, ainda de acordo com o ex-cabo da PM. Não havia quase ninguém na praia no momento da ocorrência. Bertioga, que era um distrito da cidade de Santos até obter sua emancipação em 1991, possui atualmente cerca de 50 mil habitantes. Na época, Dias estima que o número de moradores se aproximasse de seis mil. “Estava tudo praticamente deserto e o mar, calmo. Parecia que só havia os três na Enseada”, recorda.

O ex-cabo da PM se refere, assim, ao casal de austríacos que acompanhava Mengele no passeio, Wolfram e Liselotte Bossert. Os três dividiam uma casa de temporada localizada a cerca de quatro quadras da praia, em uma área não asfaltada, ainda de acordo com Dias. Liselotte acabaria sendo processada em 1985 por falsidade ideológica no Brasil, após apresentar o documento falso de identidade de Mengeleno dia do óbito. Wolfram, por sua vez, é apontado como um ex-oficial do Exército nazista que morava no Brasil desde a década de 1950.

“O (Wolfram) Bossert acabou sendo levado para o Pronto Socorro por conta do esforço para tirar o Wolfgang da água. E ele tinha uma estrutura óssea bastante forte”, comenta Dias. O corpo de Wolfgang, por sua vez, foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) de Santos para a realização de exames complementares. A causa oficial da morte segue um mistério.

Wolfgang acabaria enterrado no dia seguinte no cemitério do Rosário, na cidade de Embu, na região metropolitana de São Paulo.


Reviravolta

Em 1985, no entanto, uma reviravolta marcou o caso registrado por Dias naquela tarde ensolarada de fevereiro. A dimensão do fato assumiu contornos históricos e atraiu a atenção de diversos meios de comunicação brasileiros e internacionais. “Um repórter me ligou e começou a perguntar se havia sido eu quem tinha atendido uma ocorrência em 1979. Daí para frente tudo começou a vir à tona.”

Ele conta que teve início uma grande busca de informações a respeito do caso, inclusive por parte dos peritos, que acabariam exumando os ossos de Mengele - análises feitas através de exames de DNA confirmariam, em 1992, que os restos mortais seriam mesmo do monstro nazista. Entre inúmeras entrevistas concedidas, Dias foi convocado para relatar a ocorrência à Polícia Federal em São Paulo. O ex-cabo da PM lembra que, com a enorme repercussão do caso no Brasil e no exterior, Bertioga alterou sua rotina na época.

“A cidade, que era mais tranquila, pacata, sofreu um impacto muito grande”, diz. “Eu ficava pensando depois quantas vezes ele (Mengele) pode ter passado por mim ainda em vida”, acrescenta. Isso porque Dias havia trabalhado também em uma base da PM em um dos pontos de entrada da cidade, a balsa que a liga ao município do Guarujá.

Hoje, o ex-cabo é chefe de fiscalização do setor de trânsito e transporte do município de Bertioga, após entrar na reserva da PM como primeiro-sargento. Aos 68 anos, o mineiro que chegou à cidade ainda no fim da década de 1960 como policial rodoviário, se dedica aos desafios da ocupação do sistema viário. E, de forma singela, mas ao mesmo tempo muito objetiva, resume o seu sentimento em torno do caso Mengele, antes de retornar à sua ocupação pública.

“Fica o sentimento de compaixão das pessoas que perderam a vida de forma tão trágica. Hoje o mundo é um lugar melhor.”

Quem é Mengele?

Josef Mengele (Günzburg, 16 de março de 1911 — Bertioga, 7 de fevereiro de 1979) foi um médico alemão que se tornou conhecido por ter atuado durante o regime nazista. O apelido de Mengele era Beppo, mas ele era conhecido como Todesengel, "O Anjo da Morte", no campo de concentração.

Mengele foi oficial médico chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, que era parte do complexo Auschwitz-Birkenau. No entanto, não foi o oficial médico em chefe de Auschwitz; acima na hierarquia encontravam-se os médicos Eduard Wirths e Hilario Hubrichzeinen. No fim da Segunda Guerra Josef Mengele fugiu da Alemanha passando por alguns países, até encontrar acolhida na Argentina, onde permaneceu algum tempo até que seu companheiro Adolf Eichmann foi localizado em Buenos Aires por agentes do Mossad. Mengele fugiu para o Paraguai e depois para o Brasil. Morreu em 7 de fevereiro de 1979 na cidade de Bertioga (SP) como Wolfgang Gerhard. Em 1992 foi realizado na Inglaterra o exame genético feito com a amostra de sangue doada por Rolf, filho de Josef Mengele, e fragmentos de ossos do corpo exumado do cemitério de Embu pelos doutores Alec Jeffreys, da Universidade de Leicester, e Erika Hagelberg, da Universidade de Oxford, confirmando que os restos mortais eram de Joseph Mengele.

Experiências:

Em suas experiências com seres humanos em Auschwitz, (ver: Experimentos humanos nazistas) ele injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, deixou pessoas em tanques de água gelada para testar suas resistências, amputou membros de prisioneiros e coletou milhares de órgãos em seu laboratório.
A partir de 1943, os gêmeos eram seleccionados e colocados em barracões especiais. Quando na rampa de seleção localizava gêmeos, os irmãos eram colocados num recinto especial e eram tratados melhor que os restantes internos. Praticamente todas as experiências de Mengele careciam de valor científico, mas foram financiadas pelo governo nazista. Incluíam, por exemplo, tentativas de mudar a cor dos olhos mediante injeções de substâncias químicas nos olhos de crianças, amputações diversas e outras cirurgias brutais e, pelo menos numa ocasião, uma tentativa de criar siameses artificialmente mediante a união de veias de irmãos gémeos (a operação foi um fracasso e o único resultado foi que as mãos dos pacientes se infectaram gravemente). As pessoas objeto de experiências de Mengele, no caso de sobreviverem, foram quase sempre assassinadas depois para dissecação.

Em cooperação com outros médicos, Mengele tentou também encontrar um método de esterilização em massa; muitas das vítimas foram mulheres a quem injectava diversas substâncias, sucumbindo muitas delas ou ficando estéreis noutros casos.
Mengele fez experiências com ciganos e judeus que tinham doenças hereditárias como nanismo, síndrome de Down, irmãos siameses e outras afeções. Um dos casos registrados sobre o tratamento dado aos anões, está o da Família Orvitz, conhecidos na Romênia como Trupe Lilliput, eram uma familia de artístas formada por sete anões, mais seus irmãos altos.

Também dissecou vivas algumas pessoas mestiças, submergindo depois os seus cadáveres numa tina com um líquido que consumia as carnes, deixando livres os ossos. Os esqueletos eram enviados para Berlim como macabro mostruário da degeneração física dos judeus ou outros.

Por vezes realizava sessões de submersão em água gelada de prisioneiros fortes para observar as suas reações ante a hipotermia. Também cooperou com o seu equivalente da Força Aérea, o médico Sigmund Rascher da Luftwaffe, em algumas experiências em que submetia pessoas a mudanças de pressão extremas, e os indivíduos morriam com horrorosas convulsões por excessiva pressão intracraniana. Rascher foi o equivalente de Mengele na experimentação em seres humanos, mas com fins militares. A sua perversidade andava a par da de Mengele, mas a sua história e final foram muito distintos.



Devido as atrocidades cometidas por ele durante a guerra, seu título de Doutor foi revogado pelas Universidades de Frankfurt e Munique.

Mengele fez numa ocasião carregar um vagão de trem com caixões que os prisioneiros notaram "demasiado pesados para o seu volume". Os caixões iam com destino a Günzburg e alguns prisioneiros deduziram corretamente que continham lingotes de ouro, provenientes das extrações dentárias das vítimas do campo. Este foi um dos primeiros indícios de que Mengele tinha pressentido o fim da Alemanha Nazista.


Em 26 de Novembro de 1944, Richard Baer, comandante de Auschwitz, recebeu uma estranha ordem para desmantelar a instalação, decaindo o ritmo de extermínio do campo. A ordem provinha diretamente de Adolf Hitler, e a muitos causou surpresa a situação.

Apenas 23 dias antes Mengele tinha estado na seleção de prisioneiros para enviar às câmaras de gás. Para ele a ordem não causou estranheza, pois estava convencido que a Alemanha Nazista perderia a guerra.

Mengele abandonou de forma encoberta o campo em 17 de Janeiro de 1945, e 10 dias depois o Exército Vermelho chegou ao campo e capturou seus prisioneiros.

Josef Mengele abandonou Auschwitz e foi para o antigo campo de concentração de Gross-Rosen. Em Agosto de 1944 este campo fora encerrado. Em Abril de 1945 fugiu para o oeste disfarçado como membro da infantaria regular alemã, com identidade falsa, mas foi capturado.

Como prisioneiro de guerra, cumpriu pena de prisão perto de Nuremberg. Foi libertado depois, quando se desconhecia a sua identidade. Durante os julgamentos de Nuremberg não se mencionou Josef Mengele como genocida.

Sabe-se que fugiu para a Argentina, provavelmente ainda na década de 1940. As rotas de fuga usadas por vários criminosos de guerra nazistas eram conhecidas como Ratlines.

Todavia, com a captura de Adolf Eichmann por agentes do Mossad, em Buenos Aires, Mengele decidiu fugir da Argentina e se escondeu no Paraguai para depois passar para o Brasil, onde teria vivido em Mamborê, Estado do Paraná. Lá, exercera ilegalmente a medicina, recebendo pacientes e prescrevendo medicamentos, sempre com identidade falsa. A Polícia Civil recebera a notícia do exercício ilegal da profissão, e por conta da investigação, Mengele fugiu antes da ação penal ter sido ajuizada. Prescrito esse crime, o delegado de polícia requereu o arquivamento do inquérito policial, e o Poder Judiciário assim declarou, já nos anos 80.

Ato contínuo à fuga de Mamborê, Mengele continuou seu périplo pelo Brasil, tendo residido clandestinamente em diversas localidades: Serra Negra, Assis, Marília, Nova Europa, Mogi das Cruzes, Poá e Bertioga, no estado de São Paulo, até à sua morte.


Inacreditavelmente, nem a Mossad nem o Centro Simon Wiesenthal conseguiram localizá-lo apesar de o seu filho Rolf o ter visitado duas vezes e com ele trocar correspondência.

Sabe-se hoje que no Brasil viveu num sítio em Caieiras de propriedade de um casal de austríacos, Wolfram e Liselotte Bossert, sob o nome falso de Wolfgang Gerhard. Quando lhe perguntavam o passado, afirmava que como oficial alemão se limitava a selecionar as pessoas aptas para o trabalho e que nunca matara ninguém.

Em 1979, o seu estado de saúde estava em franca deterioração e a família austríaca que o assistia convidou-o a refrescar-se numa praia de pendente muito suave, Bertioga, no litoral paulista, Mengele aceitou. Quando alguns membros se introduziram na água, Mengele seguiu-os até alcançar uma distância de 100 m, mas a escassa profundidade. Então, por motivos confusos e nunca esclarecidos, afogou-se, apesar de um dos amigos que o acompanhava ter imediatamente dado auxílio (supôs-de cãibras, ataque cardíaco, etc., ou mesmo suicídio).



A versão oficial é que se feriu, talvez acidentalmente, com um pedaço de madeira quando nadava em Bertioga, e isso provocou a sua morte por afogamento. Causa estranheza o fato de que Mengele não sabia nadar. Os seus ossos foram exumados em 1985, no cemitério de Rosário, na cidade de Embu das Artes, na grande São Paulo. A perícia, conduzida por especialistas do IML e da FOUSP, determinou que a ossada era do médico nazista: um defeito que tinha nos dentes superiores anteriores foi comprovado, além de coincidir em idade e estatura. Em 1992, uma análise de DNA confirmou finalmente a sua identidade[2] . Mengele nunca foi punido pelas suas atitudes, falecendo praticamente sozinho no litoral paulista.

Mengele na Ficção:

A divulgação das atrocidades de Mengele levou à criação de um mito popular em volta da sua figura semi-lendária. Várias representações ficcionais de Mengele surgiram desde a Segunda Guerra Mundial.

Uma famosa versão literária ficcional de Mengele foi criada por Ira Levin, em seu livro Os meninos do Brasil (The Boys from Brazil), em que o médico consegue clonar Adolf Hitler. Em 1978, foi lançado o filme baseado no livro com Gregory Peck como Mengele.

O escritor brasileiro Pedro Bandeira também se inspirou na figura de Mengele para criar o antagonista da terceira aventura protagonizada pelo grupo Os Karas, formado por detetives juvenis. Lançado em 1995, o livro Anjo da Morte traz os heróis às voltas com o plano sórdido de um ex-oficial nazista escondido no Brasil, o temido Kurt Kraut. Apesar do nome diverso, o vilão guarda semelhanças demais com Mengele, compartilhando com ele até seu sinistro apelido, que dá título à aventura.

Mengele foi base para uma série de médicos nazistas imaginários. Entre eles o Dr. Khristian Szell (Laurence Olivier) do filme Maratona da morte (Marathon Man, 1976), também um livro de William Goldman. Há vários personagens baseados em Mengele nos quadrinhos e obras populares infanto-juvenis, e é a provável inspiração para o Doctor Schabbs, personagem do jogo de computador Wolfenstein 3D, um cientista louco que criava zumbis. Mais recentemente, o personagem Dr. Arden vivido pelo ator James Cromwell,na segunda temporada da série American Horror Story, também pode ter sido baseado na vida de Mengele.

Também serviu como base à personagem Dieter Vogel (interpretada pelo Dinamarquês Jesper Christensen) no filme A Dívida(2010) de John Madden. Neste filme a personagem tem um fim muito semelhante à de muitos lideres nazis(Como por exemplo Adolf Eichmann), tendo sido capturado por uma força especial da Mossad, com o intuito de o julgar em Israel, mas diferente do fim de Mengele.

Foi tema da música "Angel of Death" da banda de Thrash Metal Slayer lançada no Cd Reign in Blood em 1986. Mais recentemente, foi tema da música "Carbonized" da banda de Death Metal Impiety lançada em 2004 no Cd Paramount Evil e também da banda brasileira Dorsal Atlântica com a faixa "Joseph Mengele".

Algumas de suas experiências envolvendo judeus anões, foram tema do espetáculo de teatro A-5087, de Ronaldo Ventura[4] .

Em 2013, a diretora de cinema argentina Lucia Puenzo produz o filme "Wakolda" (distribuido no Brasil como "O médico alemão") contando uma versão dos dias de Mengele como médico na cidade de Bariloche, na Patagônia.



Fonte: Wikipedia, El País Brasil, Youtube.